O advogado Eumar Novacki, que defende o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, elogiou a forma como o ministro Alexandre de Moraes tem conduzido os interrogatórios da ação penal sobre tentativa de golpe. A declaração foi feita nesta terça-feira (10) no Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília.

"A condução dos trabalhos foi leve. O ministro Alexandre conduziu com bom humor. Isso permitiu que os réus estivessem à vontade no depoimento. Foi muito positivo para o esclarecimento dos fatos", afirmou Novacki à Coluna do Estadão.

A postura de Moraes durante os interrogatórios dos réus apresenta diferenças em relação à fase de depoimentos de testemunhas, realizada em maio. Na etapa atual, as sessões têm sido marcadas por momentos mais descontraídos.

Em seu depoimento, Torres negou participação na elaboração do documento apreendido pela Polícia Federal que mencionava anulação do resultado eleitoral de 2022 e intervenção no Tribunal Superior Eleitoral.

"Não é a minuta do golpe. Eu brinco que é a minuta do Google, né? Porque está no Google até hoje. Isso foi uma fatalidade. Eu nunca trabalhei isso. O documento era muito mal escrito. Não sei quem fez, não sei quem mandou fazer e nunca discuti esse tipo de assunto", disse Torres a Moraes.

Os interrogatórios acontecem no auditório da Primeira Turma do STF. Na segunda-feira (9), início da oitiva dos réus, Moraes teve interações bem-humoradas com o advogado do general Augusto Heleno, que havia pedido para a sessão da manhã de terça começar mais tarde.

Quando o defensor comentou "Eu minimamente quero jantar, excelência, eu só tomei o café da manhã quase", o ministro respondeu: "Imagine eu". Moraes acrescentou: "Vamos ver se nós terminamos amanhã. Aí o senhor tem quarta-feira para tomar um belo brunch, quinta-feira um jantar, que é dia dos namorados, sexta é Dia de Santo Antônio e o senhor comemora numa quermesse. Se a gente começa a atrasar, a gente não acaba, doutor".

Na sessão desta terça-feira, o ministro manteve o tom descontraído ao dizer a um advogado durante uma pausa: "Doutor, o horário do almoço ainda está longe. Vamos seguir".

A Procuradoria-Geral da República não fez perguntas a Torres durante seu interrogatório.

Depoimentos de testemunhas tiveram clima mais tenso

A fase anterior de depoimentos das testemunhas apresentou momentos de maior tensão. Em 23 de maio, o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo disse a Moraes que o ex-comandante da Marinha não falou literalmente sobre "deixar à disposição" de Bolsonaro as tropas da Força.

"A força da expressão nunca pode ser tomada literalmente. Quando alguém diz estou frito não quer dizer que está numa frigideira", declarou Rebelo. Ao informar que não estava presente na reunião mencionada, Rebelo ouviu de Moraes: "Então, o senhor não tem condição de avaliar a língua portuguesa naquele momento. Atenha-se aos fatos".

Rebelo respondeu: "A minha apreciação da língua portuguesa é minha e não ito censura". O ministro então advertiu: "Se o senhor não se comportar, o senhor vai ser preso por desacato".